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sábado, 15 de novembro de 2014

A canção da Bruxa

   A canção da Bruxa

Que eu seja como aquela que tece o pano na floresta, profundamente escondida. 

Que eu possa fazer o meu trabalho sem interrupção. 

Que eu seja uma exilada, se é este o sacrifício. 

Que eu conheça a procissão sazonada do meu espírito e do meu corpo, e possa celebrar os quartos em cruz, solstícios e equinócios. 

Que cada Lua Cheia me encontre a olhar para cima, nas árvores desenhadas no céu luminoso. 

Que eu possa acariciar flores selvagens, cobri-las com as mãos. 

Que eu possa libertá-las, sem apanhar nenhuma, para viver em abundância. 

Que meus amigos sejam da espécie que ama o silêncio. 

Que sejamos inocentes e despretensiosos. 

Que eu seja capaz de gratidão. 

Que eu saiba ter recebido a alegria, como o leite materno. 

Que eu saiba isso como o meu cão, nos ossos e no sangue. 

Que eu fale a verdade sobre a alegria e a dor, em canções que soem como aroma do alecrim, como todo dia e na antiguidade, erva forte de cozinha. 

Que eu não me incline à auto-integridade e à autopiedade. 

Que eu possa me aproximar dos altos trabalhos da terra e dos círculos de pedra, como raposa ou mariposa, e não perturbar o lugar mais que isso. 

Que meu olhar seja direto e minha mão firme. 

Que minha porta se abra àqueles que habitam fora da riqueza, da fama e do privilégio. 

Que os que jamais andaram descalços não encontrem o caminho que chega à minha porta. 

Que se percam na jornada labiríntica. 

Que eles voltem. 

Que eu me sente ao lado do fogo no inverno e veja as achas brilhando para o que vier, e nunca tenha necessidade de advertir ou aconselhar, sem que me peçam. 

Que eu possa ter um simples banco de madeira, com verdadeiro regozijo. 

Que o lugar onde habito seja como uma floresta. 

Que haja caminhos e veredas para as cavernas e poços e árvores e flores, animais e pássaros, todos conhecidos e por mim reverenciados com amor. 

Que minha existência mude o mundo não mais nem menos do que o soprar do vento, ou o orgulhoso crescer das árvores. Por isso, eu jogo fora minha roupa. 

Que eu possa conservar a fé, sempre. 

Que jamais encontre desculpas para o oportunismo. 

Que eu saiba que não tenho opção, e assim mesmo escolha como a cantiga é feita, em alegria e com amor. 
Que eu faça a mesma escolha todos os dias, e de novo. 

Quando falhar, que eu me conceda o perdão. 

Que eu dance nua, sem medo de enfrentar meu próprio reflexo. 



Poesia extraída do livro: A Bruxa Solitária, Rae Beth. 


 

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